Pequenos Mundos Encantados: A História e a Arte das Casas de Bonecas

As casas de bonecas são microcosmos encantadores que transportam as mentes para mundos diminutos e mágicos, têm uma história rica e fascinante que remonta a séculos atrás. Essas pequenas residências em miniatura não são apenas brinquedos; são testemunhos da criatividade humana, expressão artística e, muitas vezes, um reflexo da sociedade ao longo do tempo.

As Origens Históricas: Séculos de Encanto

O início da história das casas de bonecas é nebuloso, mas alguns registros apontam para o século XVI na Europa, quando as casas em miniatura eram confeccionadas para fins educativos. Estas representações diminutas da vida cotidiana eram utilizadas para instruir as jovens em habilidades domésticas, como costura, organização e decoração.

As casas de bonecas, ou casas de gabinete, como eram chamadas na época, não se destinavam ao uso de diversão, mas sim à exibição de pedagogia e riqueza. As casas eram expostas dentro de um armário que poderia ser comparado a uma cristaleira. As portas podiam ser abertas e o interior do armário que era dividido em salas proporcionavam uma forma colorida e requintada de expor peças em miniatura de grande riqueza.

Na Alemanha também tinham as “cozinhas de Nuremberg”, que eram usadas pelas mães para ensinar as filhas a montar e administrar uma casa. Geralmente eram projetadas sem ornamento para fins utilitários e continham lareira, vassoura de palha e panelas e eram feitas de metal. Era o oposto de uma casa de bonecas como um mundo de sonhos de fantasia, pois nesse caso elas aprendiam a se tornar donas de casa.

No entanto, foi no século XVII, que as casas de bonecas começaram a assumir características mais parecidas com as que conhecemos hoje. Os detalhes meticulosos, móveis elegantes e a atenção aos pormenores eram características marcantes dessa época. As casas de bonecas tornaram-se símbolos de status, refletindo o estilo de vida da aristocracia europeia.

A primeira casa de bonecas de destaque que se tem notícias foi do Duque da Baviera, Albrecht V, que mandou construir uma casa em miniatura para sua filha, porém dada a riqueza do detalhamento e realismo da obra, o próprio Duque acabou por incluir a casa em sua coleção de obras de arte. Esta casa foi destruída em 1674 em um incêndio no palácio do Duque.

Expansão e Popularidade: Séculos XVIII e XIX

Durante os séculos XVIII e XIX, a popularidade das casas de bonecas cresceu exponencialmente. Na Inglaterra vitoriana, as casas de bonecas eram frequentemente usadas como peças decorativas, exibindo a habilidade artesanal e o status social de suas proprietárias. Os artesãos da época tornaram-se especialistas na criação de miniaturas intrincadas, desde móveis até utensílios domésticos.

A Exposição Universal de Londres em 1851 foi um marco importante para as casas de bonecas, destacando a maestria artesanal em escala reduzida. Muitos fabricantes aproveitaram a oportunidade para exibir suas criações, contribuindo para a popularização global dessa forma de arte.

De Brinquedo a Obra de Arte

O final do século XIX e início do século XX viu uma transformação nas casas de bonecas. Elas deixaram de ser apenas brinquedos e passaram a ser apreciadas como verdadeiras obras de arte. Artistas renomados começaram a criar casas de bonecas extraordinárias, explorando diferentes estilos arquitetônicos e estéticas.

Quando a Revolução Industrial permitiu a produção em massa é que as casas de bonecas e miniaturas começaram a ser construídas como brinquedos populares, geralmente para crianças de famílias ricas inicialmente. Só depois da Segunda Guerra Mundial é que eles se tornaram acessíveis também à classe média.

Casas de bonecas notáveis desse período:


A casa de bonecas mais famosa do mundo é a Queen Mary’s e foi projetada por Sir Edwin Lutyens, em 1924, com paisagismo feito por Gertrude Jekyll e construída em escala de 12 por 1, com hidráulica e elétrica, bem como dois elevadores que funcionam. Esta casa continua intacta e pode ser vista no castelo de Windsor na Inglaterra.

Foi criada como um palácio real em miniatura como um presente da nação à Rainha Mary. A fachada é accionada por um mecanismo e eleva-se inteiramente para revelar a casa por dentro. A ideia era que fosse o mais fiel possível vida moderna da década de 1920. Contém cerca de 1000 obras de arte em miniatura.

O conteúdo da Casa foi criado por artesãos de todo o país para mostrar as melhores artes. O conteúdo da Casa inclui não apenas móveis, prataria, cerâmica e têxteis, mas também alimentos reais, sabonetes e biscoitos de Natal em miniatura. Cada detalhe foi recriado, os lençóis bordados com a cifra real, as cadeiras devidamente estofadas e as camas de molas.

A Casa incorpora muitos lembretes de que foi feita para uma família real – um conjunto completo de joias da coroa em miniatura, um par de cadeiras de trono em miniatura ficam no Salão e também uma série de objetos que pertenceram à Rainha.

A Casa é também um retrato da vida artística e cultural da década de 1920. A casa possui 588 livros em miniatura que vão desde as obras completas de Shakespeare, a Bíblia e o Alcorão, até romances, poemas e artigos; mais de 700 aquarelas, gravuras e desenhos e 24 partituras musicais miniaturizadas. Como arquivo da vida artística da época permanece incomparável.

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A Stettheimer Dollhouse foi construída na cidade de Nova York por Carrie Walter Stettheimer entre 1916 e 1935. Muitos artistas contemporâneos fizeram miniaturas de sua arte para a casa de bonecas, incluindo Marcel Duchamp , Alexander Archipenko , George Bellows , Gaston Lachaise e Marguerite Zorach. Contém 12 quartos decorados, e agora está localizado no Museu da Cidade de Nova York.

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As Salas Thorne:
As 68 caixas em miniatura da Thorne Rooms , cada uma com um tema diferente, foram projetadas por Narcissa Niblack Thorne e os móveis para elas foram criados por artesãos nas décadas de 1930 e 1940.
Cada sala tem um tema diferente e mostra o modo de vida na Europa e na América do século xiii até 1930. Incluindo uma igreja de estilo gótico do ano de 1275.

As peças Não estão no mesmo lugar, mas espalhadas em diferentes museus, como o Art Institute of Chicago, o Phoenix Art Museum e o Knoxville Museum of Art.
Assim como outras casas em miniatura, agora elas valem uma bela fortuna.

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A casa de bonecas da atriz americana de cinema mudo Colleen Moore, foi construída para representar um castelo de conto de fadas. Levou 7 anos para ser construída, começando em 1928 e sendo finalizada em 1935. Tem a sala de estar da Cinderela cujo teto é adornado com um lustre dourado, decorado com esmeraldas e pérolas e um salgueiro-chorão no jardim mágico. Há também eletricidade e água encanada. Atualmente, encontra-se em exposição no Museu de Ciência e Indústria de Chicago. Em dólares, o castelo de fadas foi avaliado em 2015 em 8 milhões e meio.

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O Palácio de Titânia

É um castelo em miniatura que foi construído à mão por James Hicks & Sons, marceneiros irlandeses e foi encomendado por Sir Neville Wilkinson, e levou 15 anos para ser finalizado de 1907 a 1922.
Muito admirado e famoso, James Hicks é considerado o mais competente marceneiro da Irlanda no século 20.

A obra dispõe de 18 quartos com móveis esculpidos à mão, além de mais de 3.000 obras de arte em miniatura coletadas em todo o mundo. Em 1978, o Titania’s Palace foi comprado em leilão pela Lego e exibido na Legolandia da Dinamarca. Desde 2007, ele foi emprestado e é exibido no Castelo de Egeskov, na Dinamarca.

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A casa de boneca de Sara Rothé:

Sara Rothé foi uma colecionadora de arte do norte da Holanda do século XVIII, e pediu para que fosse contruida uma casa de boneca baseada em sua casa, o preço gasto foi de vinte a trinta mil florins, que era quase o preço de uma casa real na época.

Os doze quartos foram, mobilados por Sara Rothé, proporcionam-nos uma visão íntima da rica vida do século XVIII pois cada quarto é decorado de acordo com a moda da época.

Ainda contém os tecidos, as pinturas, a prata brilhante e a porcelana com que foi decorado. Podemos ter a certeza de que esta casa de bonecas nunca foi tocada pelas mãos de uma criança – e é por isso que resistiu ao teste do tempo em condições excepcionalmente boas.

Casas de Bonecas: Um Novo renascimento

No século XXI, as casas de bonecas continuam a encantar e inspirar. Com a ascensão das redes sociais, os entusiastas compartilham suas criações, conectando-se globalmente e criando comunidades dedicadas a essa forma única de arte.
Os colecionadores dizem que estamos em um renascimento da miniatura. As casas de bonecas não atraem mais apenas as crianças, transformou-se também em um hobby para adultos e um negócio cada vez mais lucrativo. A hashtag dollhouse tem 2,75 milhões de postagens e a hashtag miniature 8 milhões, uma mistura de postagens de pessoas que fazem e as que compartilham.

O hobby tem dois focos principais: a construção e a compra, e estão disponíveis em diversos formatos, desde casas prontas e decoradas até kits de acordo com o projeto do cliente. Alguns projetam e constroem sua própria casa de bonecas. Projetos mais simples podem consistir em caixas empilhadas e usadas como salas. Os objetos em miniatura usados ​​para decoração dentro das casas incluem móveis, decoração, bonecos e itens como livros, papel de parede e até relógios . Alguns deles estão disponíveis prontos, alguns são kits, mas também podem ser feitos à mão.
Dezenas de feiras de miniaturas são realizadas por diversas organizações ao longo do ano, onde artesãos e revendedores exibem e vendem suas miniaturas.

No mundo digitalizado de hoje, as casas de bonecas ainda desempenham um papel significativo tanto como brinquedo como arte, oferecendo uma fuga encantadora para a imaginação e incentivando o desenvolvimento de habilidades fundamentais. Longe de serem obsoletas, adaptaram-se aos tempos modernos, mantendo seu charme atemporal.

A tradição de brincar com casas de bonecas ainda transcende gerações, criando uma bela conexão intergeracional. Avós que compartilham suas próprias experiências podem criar momentos especiais e duradouros, passando adiante não apenas brinquedos, mas também histórias e memórias.

Em resumo, esses pequenos mundos permanecem como faróis atemporais de diversão, aprendizado e também uma forma de expressão artística sofisticada. Continua a proporcionar alegria, desafiando a criatividade de crianças e adultos, e mantendo viva a tradição de construir pequenos mundos encantadores. Nos vemos em breve e Boa Arte.

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